Milfontes - Moradia T4

Descrição da propriedade

Moradia de dois pisos.  Composta por R/C com cozinha, sala com dois sofás e mesa de refeições, um quarto com cama individual e WC.
O piso superior é composto por WC, dois quartos com cama de casal e um quarto com duas camas individuais.
Dispõe ainda de um pequeno quintal com churrasqueira.

Dados gerais

Características:
  • 4 quartos
  • 2 casas de banho
  • 8 pessoas máximo (por pessoa adicional será acrescida uma taxa de 50 euros)
Distância de: (valores aproximados)
  • Praia - 500 metros
  • Comércio - 500 metros
  • Praça - 200 metros
  • Centro da Vila - 500 metros
Equipamentos:

Geral:  Roupa - apenas cobertores (não inclui lençóis nem toalhas)

No exterior:  Churrasqueira, pequeno quintal onde poderá secar a roupa, etc.

No interior:  TV (plasma), maquina de lavar roupa, frigorífico, fogão (com forno), microondas, torradeira, ferro, tábua de engomar.

Casa de banho:  1 com duche e banheira, 1 com duche

Camas:  2 camas de casal, 3 camas individuais, 2 sofás

Observações:
  • Aceitam-se alguns animais, dependendo de acordo prévio.
Diversões locais:
  • Praias
  • Pubs
  • Cafés
  • Discotecas
  • Pesca
  • Desportos náuticos (windsurf, surf, canoagem, etc.)
  • Animações de rua
  • etc.
Preço:


Semana Quinzena
Mês
Janeiro 250 350 600
Fevereiro 250 350 600
Carnaval 300

Março 250 350 600
Abril 250 350 600
Páscoa 300 500
Maio 300 500 800
Junho
550 1000
Julho
850 1600
Agosto
1200 2300
Setembro
550 1000
Outubro 250 350 600
Novembro 250 350 600
Dezembro 250 350 600
Passagem Ano 600


Notas importantes: 
  • Os valores apresentados são expressos em euros.
  • Os preços indicados são por propriedade
  • Reserva 50% do valor
  • Restantes 50% aquando da entrega da chave
  • Entradas: das 15 horas ás 18 horas
  • Saídas: até ás 13 horas
Meios de pagamento:
  • Transferência bancária
  • Cheque
  • Dinheiro
  • Paypall
Notas adicionais:
  • Não serão devolvidos os valores da reserva num período inferior a 60 dias a que esta se refere.

Calendário de disponibilidade:

Availability Milfontes T4

Contactar proprietário:

Praia da Franquia


Situa-se em plena foz do Rio Mira, na margem norte do rio. 

É uma praia conhecida pela fraca ondulação e acesso fácil, cativando por isso famílias com crianças, mas também os amantes dos desportos aquáticos. 
É uma praia vigiada. 

Infraestruturas de apoio:
 
• Casas-de-banho;
• Estacionamento;
• Duches;
• Aluguer de canoas;
• Posto de primeiros socorros: assistência prestada pelos nadadores-salvadores e no posto de atendimento da Cruz Vermelha.



Praia do Malhão / Aivados

 
É uma das praias favoritas de muitos turistas que passam férias em Vila Nova de Milfontes. Localiza-se a cerca de 5 km a norte desta vila. 
É uma praia vigiada e com óptimas condições para a prática de surf e bodyboard.
 

Infraestruturas de apoio:

• Estacionamento;
• Posto de primeiros socorros: assistência prestada pelos nadadores-salvadores.

Praia das Furnas


Situada perto de Vila Nova de Milfontes, na margem esquerda do Rio Mira, a Praia das Furnas é uma praia fluvial, com forte influência marítima. Durante a maré vazia a praia estende-se para lá da foz do Rio Mira, formando-se pequenas enseadas no areal entre as rochas.

Os amantes dos desportos náuticos têm a possibilidade de praticar windsurf, vela ou canoagem no curso do rio, onde as águas são bastante mais tranquilas.



Localiza-se na margem sul do Mira, tendo como cenário de fundo as praias da Franquia e do Farol e parte de vila de Milfontes. Tem uma frente de mar e outra de rio, junto à foz do Mira, onde o areal é mais largo. A partir de Milfontes são dois os possíveis itinerários para lá chegar: pela ponte ou por intermédio de uma embarcação que, durante os meses de Verão, assegura a ligação entre as duas margens do rio. É uma praia concessionada, sendo a vigilância da sua competência.


 Infraestruturas de apoio:

• Foi atribuída bandeira azul à Praia das Furnas, na zona frente ao rio, junto do apoio de praia Oasis;
• A zona frente ao rio, junto do apoio de praia Oasis foi classificada como "Praia Acessível" para cidadãos com mobilidade reduzida, pelo Instituto Nacional para a Reabilitação;
• Estacionamento;
• Aluguer de meios recreativos;
• Posto de primeiros socorros: assistência prestada pelos nadadores-salvadores.


Praia do Farol


Situa-se em plena foz do Mira, na margem norte do rio. 
É uma praia conhecida pela fraca ondulação e acesso fácil, cativando por isso famílias com crianças, mas também os amantes dos desportos aquáticos. 
É uma praia vigiada. A praia do Farol tem concessionário, sendo a vigilância da sua competência.

Infraestruturas de apoio:

• Estacionamento;
• Posto de primeiros socorros: assistência prestada pelos nadadores-salvadores e no posto de atendimento da Cruz Vermelha.

Milfontes: Quadros da sua História - 1

Desde há muitos anos dedicado ao estudo da História de Vila Nova de Milfontes, Dr. António Martins Quaresma, volta a apresentar neste espaço, mais um valioso apontamento que nos ajuda a compreender o passado desta Vila.

Desta feita, as raízes do famoso "Castelo de Milfontes" (que afinal é um forte) são aqui detalhadamente explicadas. No texto que se segue, o visitante pode melhor compreender a razão da sua existência e conhecer a sua história, desde a construção até aos nossos dias.


O Castelo
 
A edificação do forte ocorreu entre os anos de 1599 e 1602, na sequência de um período de forte assédio corsário à vila. Designado em geral, algo impropriamente, por “castelo” (termo ajustado a construções defensivas medievais), foi-lhe dado, de início, o nome de S. Clemente, santo associado a consagrações marinhas. O símbolo de S. Clemente, uma âncora, parece ligar ao forte a ideia de um porto mais seguro. Com razão.


Não há dúvida de que a sua construção se destinou a melhorar a segurança da desprotegida costa alentejana, constantemente percorrida por corsários e piratas, e, ao mesmo tempo, a defender o porto e a sacrificada vila de Milfontes. Aliás, a primeira fase do período filipino foi fértil em realizações arquitectónicas, nomeadamente no plano militar, que incluíram uma maior e mais moderna cobertura fortificada do litoral, para o que contribuiu a vinda a Portugal de engenheiros italianos. 

Projecto do citado engenheiro napolitano ao serviço da Coroa, Alexandre Massaii, que aqui esteve em 1598 a efectuar os estudos prévios, a edificação iniciou-se no ano seguinte, com o estaleiro transferido do Pessegueiro, cujas obras portuárias e defensivas foram interrompidas. A direcção dos trabalhos foi entregue ao próprio Massaii, ficando concluídos em finais de 1602. Boa parte da pedra para a construção terá sido, como no Pessegueiro, obtida da rocha arenítica próxima, onde ainda, em baixa-mar, se divisam claramente sinais de cortes. 

Construído sobre esporão rochoso, na margem direita do rio, a cerca de 1.5 Km da embocadura, para onde apontava as suas baterias, o forte buscou as máximas possibilidades defensivas naturais. Maneirista na sua traça, obedecia à tipologia característica de uma fortificação moderna preparada para receber e defender-se de artilharia, dentro dos novos princípios da pirobalística. De planta grosseiramente quadrangular (ou poligonal, para sermos mais precisos), parecia avançar em cunha sobre o estuário, oferecendo ao fogo de possíveis inimigos uma superfície angular destinada a amortecer os impactos dos projécteis. Nas primeiras plantas do forte esse ângulo surge ainda arredondado, mas após importantes obras efectuadas por volta de 1693, já no período barroco, ficou em aresta viva. Apresentava, para bater a entrada do estuário, duas plataformas desniveladas, com outras tantas baterias, a barbete, isto é, a disparar sobre o parapeito. Fronteiro à vila, do lado norte e nascente, um terrapleno lajeado guarnecido com canhoneiras. Embora não se possa dizer que se trata de simples bateria ou plataforma artilhada, as dimensões são as de um pequeno forte, cujos lados rondam os 35 metros, mais ou menos. 

Virada a nascente, abre-se a porta em arco redondo, encimada por pedra de armas com escudo e coroa fechada (conforme o uso da época) e simplificada. Para defesa da porta, além da cava ou fosso, um simples ressalto na muralha, formando um ângulo flanqueante, sem os característicos baluartes que vemos, por exemplo, no Pessegueiro. O acesso fazia-se por ponte levadiça, cujo mecanismo deixou de funcionar talvez desde meados do século XVIII, ou mesmo antes. À entrada, no interior, uma espécie de corredor com os costumados obstáculos: corpo da guarda, “rastilho”, isto é, uma grade que interrompia a passagem ao interior. 

Ocupando o espaço delimitado por parte dos ramais leste e sul, dois pisos comportavam o antigo alojamento do governador, no superior, coberto inicialmente por um terraço para mosqueteiros, dado o papel que a armas de fogo individuais já então desempenhavam (mais tarde, substituído por telhado), e quartéis e armazéns, no inferior. As restantes dependências, em que se incluía a capela, situavam-se na “praça baixa”, encostadas ao terrapleno. 
 
Cercava o forte, por norte e nascente, uma cava ou fosso, limitado exteriormente por contra-escarpa, na qual corria uma estrada coberta, acessível a partir do fosso por desaparecida escada de pedra. O muro que hoje rodeia o fosso do castelo e que forma os miradouros da Barbacã (também uma designação arcaica) é o que resta dessa antiga fortificação exterior. À solução dos baluartes foi aqui preferida uma defesa baseada na alta e forte muralha e nas obras exteriores, até porque, essa zona ficava circunvizinha ao casario da vila. 

A história do forte, é marcada por notícias que dão conta das dificuldades em manter, ao longo dos tempos, um mínimo de operacionalidade militar, já por carência de pessoal, já por deficiente municiamento. Apesar de tudo, quanto mais não seja pelo efeito dissuasor, não devemos menosprezar o seu papel defensivo. 

Uma nova história do forte iniciou-se no alvor do século XX. Terminada a sua função militar, foi, em 1903, arrematado em hasta pública pelo capitão de infantaria Valério Manco Ferrão, residente em Lisboa, por 464 mil réis, passando assim para mãos particulares. Este, por sua vez, acabou por vendê-lo, em 1909, a Francisco de Jesus Gonçalves, então morador na herdade de Gomes Anes (Odemira), pelo preço de 250 mil réis. A acreditar nos valores declarados nas escrituras, o capitão Ferrão fez fraco negócio. 

O forte apresentava, nessa altura, aspecto decadente, principalmente nos muros voltados para a barra, no casario adossado ao cavaleiro, nos parapeitos e na contra-escarpa, embora os poderosos muros da praça alta lhe conferissem ainda sólida aparência. Situação justificada pela acção do tempo, conjugada com o desprezo a que fora votado. O facto de ter sido privatizado não lhe trouxe imediatamente qualquer vantagem em termos de conservação; antes pelo contrário, os sucessivos proprietários não lhe prestaram qualquer atenção durante quase 40 anos.

Finalmente, por compra efectuada em 1939 (escritura lavrada em 1940), o castelo foi providencialmente adquirido, por Luís Manuel de Castro e Almeida, através de sua mulher Margarida Marques de Figueiredo. O novo proprietário, um viajado proprietário e negociante, natural de Lisboa, que usava o título de “Dom”, mandou então restaurá-lo para sua residência e para fins turísticos (“turismo de habitação” avant la lettre), funções que ainda mantém.

Hoje, mostra naturalmente alterações relativamente ao tempo em que tinha função bélica, as mais visíveis efectuadas depois de 1939, durante as obras de restauração. No exterior, destaca-se o friso de janelas em arco que remata o muro da praça baixa e marca a silhueta do forte visto de sul ou de poente, traçadas para melhorar a habitabilidade do forte. Um pastiche de cubelo medieval avulta na praça alta, do lado norte; disfarça um depósito de água e foi construído há alguns anos, em período de deficiência do fornecimento de água ao domicílio. Interiormente, a área habitável foi sendo ampliada pela escavação do terra-pleno e ligação ao fosso por pequena porta, bem como pela ampliação do “casario” na praça alta. 

O “forte de Milfontes” recebeu classificação de “imóvel de interesse público” pelo decreto 95/78, de 12 de Setembro, e, com a criação do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, foi incluído numa das áreas de salvaguarda do património cultural (decreto 33/95), o que não se tem mostrado suficiente para uma efectiva protecção.
 

Milfontes: Quadros da sua História - 2

"Em frente de Milfontes, o Mira alarga-se consideravelmente, para formar um lindo porto
sobre o qual se eleva a povoação. É esta uma terra verdadeiramente encantadora, com as suas
casas pequenas e muito caiadas , com as suas ruazinhas limpas, com o seu velho castelo qua-
se em ruínas, levantando-se abruptamente sobre o espelho claro do rio, com a sua vista para o
mar, com o seu ar fresco, cheirando a algas, e com os seus brejos cercados de sebes e madres-
silvas. Lembro-me com saudade desta deliciosa e tranquila aldeia de pescadores."
 
Alberto Sampaio, 1908
 


 A paisagem idílica transmitida pela descrição impressionista do famoso botânico foi criação de uma natureza amável e generosa. E se a ambiência que nela perpassa evoca uma época acabada, em que uma população de pequenos lavradores/pescadores fazia lentamente a sua história de comunhão com a terra e o mar, o estuário do Mira e seus arredores permanecem como base física do actual ciclo económico e social de Vila Nova de Milfontes.
O longamente desejado progresso chegou enfim, sob a forma de turismo. Um turismo de massas, iniciado timidamente nos anos 60 e acelerado nas décadas seguintes, que transformou o paradisíaco lugar de vilegiatura estival das pessoas de posses da região, na agitada e cosmopolita estância actual.
 
Sob o Signo da Água
 
O elemento líquido tem estado presente ao longo da história local e reflectiu-se na toponímia. O próprio nome de Milfontes (mil + fontes) indica a existência de uma terra de águas abundantes. Mil, neste caso, não significa um numeral preciso, mas um número grande e indeterminado, como é vulgar na língua portuguesa. Fontes, por seu lado, relaciona-se com "nascentes de água". Portanto, terra de muitas águas – em resultado da constituição geológica do sítio onde nasceu. Hoje, essa realidade está algo alterada, fruto da acção humana recente.
O nome, de contornos poéticos, foi durante muito tempo alvo da implicância de detractores. Diziam-no uma mentira, pois não existiam mil fontes. Um viajante inglês, que por aqui passou em 1801, escreveu, sarcástico, que "the new town has all old houses and the inhabitants of the town of a thousand fountains are obliged to drink well water". Nem ele, nem os outros perceberam.
A origem do nome do próprio rio é curiosa. Houve quem quisesse ver nele uma palavra árabe ou germânica. Fantasias! A palavra Mira, pensam hoje os especialistas, provem da antiga língua falada na região, antes dos romanos, antes, antes mesmo dos celtas. E, tudo indica, significa "curso de água", isto é, "rio". Portanto, as antigas populações chamavam ao rio, simplesmente... rio. Quem não entendeu o antigo falar da população foram os sucessivos povos que posteriormente estiveram na Península. Com efeito, eles julgaram estar perante um nome próprio. Por isso, os romanos ter-lhe-ão chamado Mira flumen e os árabes designaram-no por ode Mira. E assim se repetia em diferentes línguas a mesma ideia.
 
Criação da Vila de Milfontes

Completada a chamada "reconquista", com a vitória dos reinos cristãos e consequente colapso da civilização islâmica, mais evoluída mas em irremediável desvantagem populacional e militar, todo o litoral alentejano se apresentava como um espaço escassamente povoado e desorganizado. O rei de Portugal doou-o à Ordem de Santiago, poderosa organização militar-religiosa, cuja milícia teve papel importante na guerra contra o "infiel".Em 1 de Setembro de 1486, o rei D. João II mandou passar carta de fundação de uma nova vila, no sítio chamado Milfontes, junto à foz do Mira. 
 
Desanexou o seu território do concelho de Sines, a que antes pertencia, e criou, deste modo, um novo concelho, em que incluiu o lugar do Cercal. A criação da vila de Milfontes resultou assim de uma decisão “vinda de cima” e inscreveu-se no movimento de criação de “vilas novas”, com as quais a Coroa pretendeu efectivar a organização e o controlo do território.

A intenção real era dotar a foz do Mira de uma povoação e de um verdadeiro porto, tendo em vista o apoio e a segurança do comércio marítimo que então se realizava com a região do rio Mira. Porém a rarefacção demográfica (o sítio era despovoado ou praticamente despovoado) obrigava a medidas complementares. O mesmo rei mandou então que Milfontes servisse de couto para homiziados, isto é, que, em troca do perdão para os seus delitos, pudessem vir habitar Milfontes os condenados pela justiça que o desejassem, no máximo de 50. Não se julgue, porém, que Milfontes se tornou, por isso, valhacouto de foragidos. Na verdade, apenas casos de delitos menores estavam abrangidos, e, depois de cumprida a pena, os homens podiam regressar às suas terras de origem. O couto de homiziados de Milfontes foi, assim, pouco eficaz para o povoamento da vila. Basta dizer que, meio século depois, esta tinha apenas 10 famílias, e não sabemos se alguma delas de homiziado. Ao longo dos séculos seguintes, o crescimento populacional de Milfontes foi lento, não se comparando, por exemplo, com o crescimento da sua freguesia do Cercal.

Corso e insegurança

A pirataria e o corso, em que um ou mais navios, propositadamente armados, atacavam embarcações e populações costeiras é antiga na história do mar. Nos séculos XVI a XVIII, o corso magrebino afligiu as costas portuguesas de forma dramática. A república corsária de Algel, integrada no império otomano desde 1519, foi uma das grandes protagonistas desta realidade. "Anda mouro na costa" é ainda uma expressão significativa. O atrevimento dos corsários do norte de África levou-os mesmo a atacar as costas da Inglaterra, Irlanda e Islândia, com farta "colheita" de cativos. Efectivamente os escravos europeus eram uma mercadoria valiosa numa Argel em expansão e carente de braços. Além disso, os corsários conseguiam resgates chorudos pelos cativos.

Muitos dos chefes corsários eram "renegados", quer dizer, homens provenientes de nações cristãs que, por diversos motivos, se passavam para o outro lado. Em finais do século XVI, Argel abrigava um grupo de rais, isso é comandantes corsários, que faziam do corso uma "empresa" de grossos proventos.

Ao entrar o último quartel do século XVI, Milfontes era uma pequena sede de concelho, com pouco mais de 30 moradores (mais ou menos 120 pessoas, entre homens, mulheres e crianças). Pela pobreza da terra, os habitantes praticamente estavam desarmados, não existindo qualquer arma de fogo ou, sequer, uma besta. Verificou-se, então, um arrasador ataque corsário. Em 1582, numa manhã de Verão, quando trazidos pelo bom tempo os corsários apareciam, várias galés reais penetraram no estuário e desembarcaram algumas centenas de homens armados. Podemos imaginar, as silhuetas esguias das galés, surgindo, aos primeiros alvores, por detrás da pedra da Atalaia, velas arriadas na calmaria matinal, remada rápida e cadenciada. No comando, o mais famoso rais de Argel, o renegado albanês Murata (ou Murad) Rais, tão astucioso quanto temerário. Segundo fonte quase contemporânea, os moradores foram surpreendidos, pois era dia santo e estavam na missa. Saqueada a vila, queimadas as casas e as culturas, capturada boa parte dos habitantes, os corsários retiraram deixando atrás de si uma povoação destruída.

Nos anos seguintes, a pressão corsária sobre Milfontes não abrandou, desertificando a vila. Aos corsários norte-africanos juntaram-se então os ingleses que, por via da guerra com Espanha, atacavam as costas portuguesas. Numa dessas “visitas”, em 14 de Julho de 1597, com a vila reduzida a meia dúzia de pobres moradores, os “hereges”, certamente ingleses, entraram no porto e cometeram toda a espécie de insolências: roubaram os parcos e pobres habitantes, profanaram a igreja e desrespeitaram as imagens, chegando a levar a imagem da Senhora atada ao pescoço de um burro, depois do que lhe deram punhaladas. Agindo, escreve um autor antigo, “não só como homens sem Deus e sem fé, mas como homens sem entendimento”, eles reflectiam o antagonismo religioso que caracterizava o afrontamento entre países católicos e protestantes. Esta foi a gota que fez transbordar o copo. No ano seguinte, iniciaram-se os estudos para a edificação do forte, cuja obra decorreu entre 1599 e 1602. 

Daí para diante, embora os corsários, especialmente argelinos, continuassem todos os verões a rondar e a desembarcar nas redondezas, os ataques directos à vila terminaram.  

In Vila Nova de Milfontes. História, 3.ª edição aumentada e corrigida, em preparação, de Apontamento Histórico Sobre Vila Nova de Milfontes, 1.ª edição, 1986; 2.ª ed., 1988.
 

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